Sequestro de sessão: às vezes nossas senhas não são suficientes

Por – Leonardo Lapis Information Security Analyst

Mesmo com senhas fortes e autenticação em múltiplos fatores (MFA), usuários e empresas seguem expostos a um tipo de ataque que não depende do login tradicional: o sequestro de sessão (session hijacking). Nessa técnica, criminosos assumem a identidade de um usuário já autenticado ao capturar cookies ou tokens de sessão, acessando sistemas diretamente sem repetir o processo de login. Esse vetor é particularmente crítico porque pode contornar MFA quando o invasor reutiliza um cookie já válido.

 

O que é o sequestro de sessão

 

Quando um usuário faz login em um sistema, o servidor gera um tipo de código temporário que serve para confirmar que aquela pessoa já se autenticou. Esse código é guardado em um cookie (ou, em alguns casos, em um token) e funciona como uma “credencial de acesso rápido”: em vez de digitar a senha a cada clique, o navegador apresenta esse identificador automaticamente.

O problema é que, se um criminoso consegue copiar esse código, ele pode reutilizá-lo em outro dispositivo e assumir a identidade do usuário legítimo. Nesse cenário, o invasor passa a ter os mesmos privilégios que a vítima, até que a sessão seja encerrada ou o servidor revogue o acesso.

 

Como os cookies são roubados

 

Principais caminhos de captura:

  • Software infectado: um programa baixado da internet pode parecer legítimo, mas instala um malware em segundo plano, que coleta dados de navegação.
  • Golpes de login: páginas falsas que imitam sites reais (phishings) enganam o usuário para roubar não só a senha, mas também a sessão válida.
  • Falhas em sites: brechas de segurança permitem que o criminoso acesse diretamente os cookies armazenados pelo navegador.
  • Rede aberta: ao usar Wi-Fi público sem proteção, como em cafés ou aeroportos, é possível que alguém “escute” o tráfego e capture dados da sessão.

 

Fluxos e canais de disseminação de cookies roubados

 

O roubo de cookies ou tokens de sessão é apenas o início de um ciclo mais amplo. Assim que são extraídos de um dispositivo comprometido, eles percorrem diferentes estágios de redistribuição que ampliam significativamente seu valor e alcance.

No primeiro momento, esses dados podem aparecer em sites de compartilhamento temporário, usados pelos atacantes como uma vitrine: pequenos trechos são divulgados como prova de legitimidade para atrair interessados.

Em seguida, esses cookies são rapidamente replicados em grupos privados de aplicativos de mensagens (como Telegram e Discord). Esses ambientes funcionam como canais de distribuição quase em tempo real: alguns contam com robôs que entregam sessões válidas sob demanda, mediante pagamento ou assinatura.

O terceiro estágio é a comercialização em fóruns e marketplaces na dark web. Nesses espaços, os cookies raramente aparecem isolados: é comum serem vendidos em pacotes com logins, senhas, impressões digitais do navegador e outros artefatos do dispositivo, o que aumenta o valor e a taxa de sucesso do acesso. O caso do Genesis Market, derrubado por uma operação internacional em 2023, mostrou o volume e a organização desse comércio de “bots” contendo credenciais e cookies/fingerprints prontos para uso.

Nos cenários mais graves, cookies privilegiados são direcionados a corretores de acesso inicial (IABs), que revendem esses pontos de entrada para grupos de ransomware e outros operadores avançados. O resultado é uma porta de entrada silenciosa para comprometer ambientes corporativos inteiros.

 

Impactos do sequestro de sessão

 

  • Dispensa o login tradicional: o invasor “entra” como se fosse o usuário legítimo.
  • Pode contornar MFA: ao reutilizar o cookie já emitido após a autenticação, o passo adicional é “bypassado” (contornado).
  • Acelera a escalada: sessões de contas administrativas ou com alto privilégio facilitam movimento lateral e acesso a dados sensíveis.

 

Como se proteger

 

Controles para empresas:

 

Configuração segura de cookies

 

  • Usar atributos como Secure, HttpOnly e SameSite para evitar que cookies sejam enviados em conexões inseguras, acessados por scripts maliciosos ou reutilizados fora do domínio correto.
  • Definir tempo de expiração curto para sessões críticas.

 

Rotação e invalidação de sessões

 

  • Invalidar cookies de sessão sempre que houver login suspeito, mudança de dispositivo ou aumento de privilégios.
  • Forçar revalidação de autenticação em operações sensíveis (como transferências bancárias ou acesso a dados de clientes).

 

Proteções contra ataques em aplicações

 

  • Implementar políticas contra XSS (filtro e validação de entrada, Content Security Policy).
  • Adotar medidas contra CSRF (tokens anti-CSRF e verificação de origem de requisições).

 

Boas práticas para usuários:

 

  • Evitar redes Wi-Fi abertas (ou usar VPN), manter navegador e sistema atualizados e encerrar sessões em dispositivos compartilhados.
  • Ativar alertas de login e revisar sessões ativas regularmente nas principais contas.

 

Conclusão

 

O sequestro de sessão evidencia que a proteção de contas vai além de senhas e até da MFA convencional. Cookies e tokens tornaram-se ativos valiosos: circulam em fóruns, grupos e mercados clandestinos, e quando combinados a ferramentas de Adversary-in-the-Middle ou infostealers, permitem acessos silenciosos e de alto impacto. Mitigar o risco exige atributos de cookie corretos, sessões curtas com rotação/invalidação, prevenção a XSS/CSRF, MFA resistente a phishing e, quando viável, proteção de token vinculada ao dispositivo, somadas a monitoramento e resposta a roubo de token.

Na DropReal, entendemos que ataques como o sequestro de sessão exigem não apenas prevenção, mas também monitoramento contínuo e resposta rápida. Nossas soluções de Threat Intelligence e proteção de credenciais permitem identificar indícios de roubo de cookies e tokens em fóruns, canais e mercados clandestinos, enquanto nossa equipe especializada auxilia na implementação de boas práticas de autenticação, gestão de sessões e detecção de anomalias. Combinamos tecnologia e expertise para que sua empresa esteja sempre um passo à frente das ameaças digitais.

 

Por – Leonardo Lapis Information Security Analyst

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